Caminhamos pelas fotografias de Mauro Restiffe com a urbanista Raquel Rolnik!

Raquel
Raquel Rolnik / foto: Paula Janovitch

No dia 07 de junho à noite, uma quinta-feira, ocorreu a palestra de Raquel Rolnik na exposição de Mauro Restiffe no IMS . Cheguei atrasada e quando entrei na Galeria 2, onde seria a palestra, vi um aglomerado de gente no fundo da sala. Raquel estava mostrando uma imagem do fotógrafo Mauro Restiffe, no Campos Elíseos, e explicando o que havia ocorrido ali. Falava de Santa Efigênia, da rua que é o segundo PIB comercial da América Latina, porque o primeiro, explicava ela, é o da 25 de março. Tudo isto para enfatizar o absurdo que é a expressão revitalização em uma área que não esta desvitalizada. Disse: “esta palavra revitalização deve ser banida do nosso vocabulário, é uma mentira!!! O melhor seria usar reabilitação, acolhimento de novos usos, oferta de condições de moradia para quem esta nesta região.
”
Caminhamos mais uma pouco para outra imagem, um terreno desocupado, um estacionamento com o Teatro Oficina ao lado. Ela explica que o terreno é de Silvio Santos, que este queria fazer uma edifício-torre, já os moradores do Bexiga, desejam que ali seja o Parque do Bexiga. Em meio a esta disputa ela nos pergunta se sabemos em qual categoria de zoneamento este terreno se enquadra. Ninguém responde. Ela explica: zona especial, mais ou menos quer dizer zona que pode ser qualquer coisa. Depois nos dirigimos para uma fotografia pequena, do Templo de Salomão, no Brás. Ela diz que esta foto é muito interessante porque mostra uma imagem do Templo no tapume e, ao fundo, ele ainda no início de sua construção. Novamente vem a pergunta se sabemos em que tipo de zona se enquadrava este terreno onde foi construído o Templo. Alguém chuta zona especial também. Nada disso, outra categoria, era uma ZEIS ( zona  especial de interesse  social), a mesma da área do Campos Elíseos, lembra Raquel. Porém, neste caso, havia uma casinha no terreno, e o Templo de Salomão foi construído como reforma da tal casinha. Logo passou ao largo das burocracias e impedimentos das leis. Veja que uma casinha virou um Templo reconstruído à imagem e semelhança daquele que em Jerusalém esta em ruínas até hoje. Só tinhamos lembrança dele através da Bíblia, mas agora temos uma replica “perfeita” no Brás paulistano, onde uma casinha reformada se tornou o bíblico e literal Templo de Salomão.
Depois do  percurso  neste território fotográfico, sentamos e nos estendemos nas conversas sobre a cidade, mais especificamente estes locais de conflito. E foi ali sentados que a Raquel deu um conselho ótimo para quem quer participar das discussões e decisões sobre a cidade. Motivo pelo qual escrevo sobre a palestra e compartilho aqui. Então lá vai. Temos que entender da nossa cidade como as pessoas entendem de futebol. É assim que podemos entrar em campo, aprendendo no território, nas exposições e nos deslocamentos pela cidade. Ontem caminhamos pelas fotografias de Mauro Restiffe e conhecemos vários jogadores e muitas jogadas ensaiadas. A técnica de plantão é na realidade uma boleira histórica . Valeu Raquel !!! Paula Janovitch

Para saber mais:

Exposição São Paulo, fora de alcance – Mauro Restiffe A exposição do fotógrafo Mauro Restiffe  é um desdobramento de um registro inicial que começou em janeiro de  2012 a convide da Revista Zum.  Mauro fotografou a região da Luz logo  após a Polícia Militar expulsar dali traficantes e usuários de drogas. Nesse registro não estão apenas presentes o desmonte do espaço, mas a tragédia humana e o conflito. A idéia inicial acabou virando motivo para outros registros de conflitos, desmontes e paisagens arquitetônicas na cidade de São Paulo que compõe a mostra do fotógrafo no IMS. O catálogo da exposição também esta a venda na Livraria Travessa ( IMS) e para quem quer se deter por mais tempo sobre estas imagens fora de alcance, vale a pena adquirir.

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