Será possível que ainda chova? (Re ti será)

A partícula será no início de uma frase – na boca dos paulistas – toma um sentido todo especial e particular. Tem sua herança no português de Portugal, mas é indiscutível sua procedência tupi-guarani conforme afirma  Affonso A. de Freitas:  “ é uma das quatro partículas que os nossos indígenas costumam empregar para distinguir uma interrogativa de uma afirmativa por desconhecerem a inflexão de voz como fazem os civilizados”.  Assim, o será tupi-guarani tem a função de encerrar as sentenças como ainda é usado no norte do Brasil: chove, será (Re ti será). Porém, da  influência do português e do … Continuar lendo Será possível que ainda chova? (Re ti será)

A cidade dos humoristas: Plano diretor X A lógica do absurdo

A imagem deste post é de 16 de maio de 1922. Lá na rua São Bento, centro antigo da cidade de São Paulo, um homem olha para cima. Reparem que a rua é estreita para o tamanho do edifício que ele observa. Desproporcional a dimensão da  rua e a visão do homem. São Paulo cresceu sem grandes regulamentações sobre escalas. Historicamente a especulação imobiliária orquestrou o sobe e desce. A valorização e desvalorização de algumas regiões da cidade em detrimento de outros. Não quero entrar aqui no caráter dos edifícios novos. Eles falam de um gosto e de uma forma … Continuar lendo A cidade dos humoristas: Plano diretor X A lógica do absurdo

Mapping Manhattan = Mapeando Manhattan

No meu mapa, um lugar só existe se há alguma emoção ligada a ele (Becky Cooper) Em tempos de espaços virtuais, relacionamentos em redes sociais onde imagens-códigos como “curtir”, “compartilhar” encerram acenos de afetividades e vínculos entre as pessoas, a volta às ruas como lugar que pode ser preenchido com olhares, emoções e vínculos  parece algo muito próximo daquele movimento gastronômico  slow food.  Foi isso que a escritora nova iorquina Becky Cooper fez. Pegou um monte de papéis em branco, cortou em pedacinhos compridos, bem próximo das dimensões  da ilha de Manhattan, e foi distribuindo as tais tiras em branco … Continuar lendo Mapping Manhattan = Mapeando Manhattan

A dinâmica dos nomes de ruas na cidade de São Paulo *

Na rua sem resistir                               me chamam                                                      torno a existir (Paulo Leminski) Resolvi escrever este post depois de ler um artigo no Estadão sobre a proposta do vereador Nabil Bonduki de mudança de nome do Elevado Costa e Silva aqui em São Paulo para como é mais conhecido, Minhocão. Conforme o artigo, a mudança de nome busca fazer uma revisão … Continuar lendo A dinâmica dos nomes de ruas na cidade de São Paulo *

Mais memórias difíceis: o caso das Torres Gêmeas em Nova Iorque

Achei este pequeno texto que escrevi em 2007 na época em que li dois artigos interessantes publicados respectivamente no jornal Folha de S. Paulo e Estado de São Paulo. Falsa jornalista que sou,  acabei não publicando no calor da hora, mas agora com o 11 de setembro resolvi retirá-lo dos “rascunhos” e  publicá-lo na “atualização”  do Versão Paulo. Este texto  que publico aqui continua uma discussão já iniciada no blog sobre as memórias difíceis: Memórias difíceis: espaços de reclusão na cidade  e O lugar da tragédia do avião da Tam já tem projeto de praça . Prolongando o assunto   e seus vários significados espaciais e … Continuar lendo Mais memórias difíceis: o caso das Torres Gêmeas em Nova Iorque

São Paulo de uma letra só

Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Carlos Drummond de Andrade Tenho um apreço especial por dicionários, ao longo dos anos criei em casa uma prateleira só para eles. Ficam na altura do meu braço, bem próximo do ouvido esquerdo porque ao contrário do que se possa pensar, um dicionário não serve apenas para corrigirmos ou buscarmos termos desconhecidos ou duvidosos. A esta função primeira de buscar no dicionário a definição correta, … Continuar lendo São Paulo de uma letra só

ToKyo Ga

Acabo de assistir Tokyo Ga de Wim Wenders, filme que o diretor fez durante a produção de Paris, Texas (1984). Em duas semanas Wim Wenders vai ao Japão para buscar imagens, memórias de Tóquio construídas por Yasujiro Ozu: um dos diretores de cinema que Wim Wenders considera um tesouro sagrado do século XX. Seus filmes vão desde o cinema mudo no início do 1900 até os anos 60 quando vem a falecer. O filme Tokyo Ga é tocante a princípio porque trata de um registro totalmente pessoal de Tóquio. Um encontro de Wim Wenders com quase um século de imagens … Continuar lendo ToKyo Ga

Eu fui a Lapa e não perdi a viagem!!!!

Pois é, o Rio de Janeiro continua lindo e totalmente musical. De uns tempos para cá a história da musicalidade da cidade anda em pauta . O que é totalmente correto e de bom gosto. Caso recente deste mapeamento e reinvenção bem sucedida de um espaço perdido e decadente, é a Lapa carioca. Um bairro que até bem pouco tempo fazia alusão a história de uma boêmia de outros tempos, de malandros e prostitutas que parecia totalmente em ruínas. Fui a Lapa há uns vinte anos. Lembro que entrei numa daquelas vielinhas, talvez cenário do filme Madame Satã, e tomei … Continuar lendo Eu fui a Lapa e não perdi a viagem!!!!